UNIVERSIDADE DA MADEIRA |
GRUPO DE ASTRONOMIA |
Ocultação de uma estrela por Titânia
No dia 8 de Setembro de 2001 cerca das 02h (tempo universal) o satélite Titânia, do planeta Urano, ocultou a estrela HD205829. A estrela ocultada era bastante brilhante (magnitude aparente de 7.2) proporcionando assim um bom contraste com Titânia cuja magnitude aparente ronda os 14.0. Como era uma estrela Hiparcus (HIC 106829) as predições eram bastante boas (havendo apenas a fazer ligeiras correcções com a aproximação da data do evento).
Um dos objectivos da observação desta ocultação era a detecção de uma possível atmosfera em Titânia. Esta lua de Urano (a maior de todas) tem um raio de 800Km. A sua temperatura é, segundo observações no infravermelho, próxima de 60K.
A zona mais favorável para a observação era a América do Sul (Equador, Peru...). O evento também pôde ser observado desde o Sul de França, Espanha e Portugal. Nas figuras seguintes mostra-se a faixa de onde o fenómeno poderia ser visto.
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Sendo a ilha da Madeira um dos locais bons para a observação em causa, o Grupo de Astronomia da UMa foi contactado pelos Prof. W. Hubbard e R. Hill do Planetary Occultations Group do Lunar & Planetary Laboratory da University of Arizona. O Grupo de Astronomia da UMa respondeu prontamente a este pedido de colaboração, apresentando-se disponível para acompanhar e assistir os dois investigadores. De sequida fica o relato dos acontecimentos:
Na manhã do dia 6 subimos, com os Professores W. Hubbard e R. Hill até ao Pico do Arieiro. O céu apresentava-se nublado. Este era um dos locais propostos para a observação. Os outros dois eram a Achada do Teixeira e os Estanquinhos (Paúl da Serra). Após uma vistoria ao local decidiram que a observação poderia ser feita a partir dali. Relativamente aos outros dois locais tinha à partida a vantagem de ter electricidade e a pousada onde poderia ser montado todo o equipamento. Note-se que este tipo de observação não requer, em geral, locais muito escuros. Alguma luz artificial não era problema e o acesso fácil à electricidade evita o recurso ao gerador.
No dia 7 subimos pouco depois do almoço levando todas as 10 caixas que compunham o equipamento. Os Professores W. Hubbard e R. Hill pretendiam verificar as condições atmosféricas. Se fossem boas começariam a montar desde já todo o equipamento. Infelizmente estava bastante nevoeiro e alguma chuva. Decidiram por isso trazer todo o equipamento de volta para o Funchal. A observação seria feita a partir do terraço do hotel onde estavam hospedados.
Praticamente todo o equipamento foi montado ainda antes do anoitecer. O céu embora bastante nublado apresentava ligeiras abertas. Com o cair da noite a nebulosidade foi desaparecendo progressivamente. Já eram observáveis Urano, Titânia e a estrela, embora ainda distante do ponto de ocultação. A estação de observação, montada no terraço do hotel foi denominada "Estação Espada".
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Página oficial no LPL: https://www.lpl.arizona.edu/~rhill/planocc/titania/titania.html
Praticamente desde esse momento começaram a seguir o rasto e a recolher "cubos" de imagens da estrela com a CCD. O final de cada cubo era assinalado passando uma lanterna em frente ao telescópio de forma a evitar eventuais lapsos de tempo na posterior análise de resultados. A ideia de começar cedo era , além de verificar o bom funcionamento do equipamento, registar também uma possível ocultação da estrela pelos anéis de Urano.
Com o aproximar da hora do evento surgiu uma certa nebulosidade sobre o mar, nebulosidade essa que ao subir progressivamente ameaçou durante largos minutos esconder Urano. Infelizmente foi mesmo isso que aconteceu dois ou três minutos antes do momento crítico. Quando Urano voltou a aparecer a estrela já tinha passado por Titânia.
Para saber mais sobre esta e outras ocultações:
Planetary Occultations Group - Lunar and Planetary Laboratory
Grupo de Astronomia da Universidade da Madeira - 2001