XI Encontro Nacional de Astronomia e Astrofísica
Buracos Negros
Centro Multidisciplinar de Astrofísica,
CENTRA, Departamento de Física, Instituto Superior Técnico, Lisboa
Resumo
Buracos negros tornaram-se objectos de interesse astrofísico depois que foi
mostrado que são o produto inevitável do colapso gravitacional total de uma
estrela massiva ou de um aglomerado de
estrelas, em certas condições. Buracos negros fornecem a potência para os fenómenos
espectaculares vistos em discos estelares emitindo raios-x, em núcleos activos
de galáxias e quasares, e devem habitar, num estado quiescente, o centro de galáxias
normais, como a nossa.
Buracos negros aparecem naturalmente como soluções exactas em relatividade
geral. As suas propriedades teóricas, tais como estabilidade do horizonte de
eventos, os teoremas não-cabelos e a física de matéria em órbita, estão bem
estabelecidas. Estes buracos negros vivem num espaço-tempo
assimptoticamente plano.
Buracos negros começaram a ser importantes não só para a astrofísica, mas
também para a física, depois da descoberta que, devido a processos quânticos,
podem emitir radiação com uma determinada temperatura, a temperatura Hawking.
Ficou também claro que eles possuem uma entropia bem definida. Assim buracos
negros tornaram-se objectos sujeitos às leis da termodinâmica.
A menor escala que um buraco negro pode ter è a escala de Planck 10-33
cm. Qualquer objecto tem um comprimento de onda quântico associado, lde Broglie , inversamente
proporcional à massa. Um buracos negro massivo tem lde Broglie muito
menor que o horizonte de eventos, efeitos quânticos não são importantes.
Quando o raio do horizonte de eventos é da ordem de lde Broglie , o buraco negro com 10-33
cm, deve ser tratado por uma teoria quântica da gravitação. Tal objecto
aparecerá como uma partícula elementar com massa de 10-5 gm.
Buracos negros podem assim aparecer em qualquer escala, desde a de Planck até a
escalas de dimensões astrofísicas. Isto é único, todos os outros objectos têm
uma escala bem definida, ou definida dentro de uma pequena faixa.
Uma vez que buracos negros são do domínio da física tornou-se claro que eles
não deveriam ser estudados somente em espaço-tempos assimptoticamente planos,
nem somente dentro da relatividade geral, nem somente em
4(3+1)-dimensões. Sabemos que em escalas de Planck a teoria da gravitação tem
de ser quântica. Uma teoria muito geral, que quantiza a gravidade é a
teoria de cordas, que fornece várias teorias efectivas da gravitação em
limites apropriados, como a de Brans-Dicke, a de Kaluza-Klein, a própria
relatividade geral e outras. Buracos negros aparecem em profusão na teoria de
cordas, em todas as dimensões possíveis de 2 a 11. Para dimensões maiores que
4 é necessário compactificar as dimensões extra. Para dimensões menores que
4, podem ser vistos como modelos ou, com um certo cuidado podem ser
transportados para 4 dimensões.
Pretendemos nesta palestra percorrer a evolução do conceito de buraco negro,
desde o seu aparecimento como objecto astrof\ii sico, passando pelo seu estudo
como objecto geométrico do espaço-tempo, até ao reconhecimento da sua importância
como objecto quântico da gravitação por excelência.
Grupo de Astronomia da Universidade da Madeira - 2001