Grupo de Astronomia da Universidade da Madeira

A primeira Sexta astronómica decorreu, como previsto, na noite de 27 de Outubro. Lá estávamos quatro (eu, o Angelino, o Laurindo e o Elder) e acabamos por ir jantar à pizzaria aqui perto. Mas nem todos comemos pizza. Também nem todos bebemos cerveja...Adiante...

Um local com algum barulho (especialmente a partir das 21h) não impediu que tivéssemos uma animada conversa sobre Plutão. Especialmente sobre a questão da sua redefinição como planeta-anão (pois ainda não desapareceu do céu, ao contrário do que muitos pensam!). Falamos sobre o seu status anterior, de planeta-duplo com Charon (embora, infelizmente, ainda não seja formal tal classificação pois a definição de satélite ainda aguarda decisão superior - da IAU). Ainda sobre a recente descoberta de mais dois objectos no sistema (Nix e Hydra; com menos de 200 km cada), tornando-o no primeiro sistema quadruplo conhecido do Cinturão de Kuiper. Sim, porque há outros duplos e triplos (veja-se o caso do enorme "asteróide-charuto" 2003EL61 que tem dois satélites). Claro que era só uma questão de tempo para Plutão perder importância. Isto se nos lembrarmos que a descoberta de Eris (o tal "ex-décimo planeta") foi apenas mais um objecto grande no cinturão de Kuiper. Curiosamente, ainda é possível que seja menor que Plutão (erros de medição). Ainda, como aspecto positivo, Ceres, que foi considerado planeta desde a sua descoberta (em 1801) até meados do século XIX, foi promovido de asteróide a planeta-anão! Assim, os astrónomos não se limitam a "matar" planetas. Ora, para já três planetas anões (Ceres, Plutão e Eris), Charon ainda se designa por satélite de Plutão (só daqui a três anos teremos uma decisão final sobre o seu estatuto).

Pluto, Charon, Nix e Hydra. Copyright: NASA, ESA, H. Weaver (JHU/APL), A.Stern (SwRI) and the HST Pluto Companion Search Team.

Mas há mais uma dezena de candidatos a planetas anões, entre o já citado "charuto" mas também Sedna entre outros. Se calhar antes da próxima reunião da IAU, em 2009, já há uma lista de mais de 10 planetas anões. Lemos ainda artigos interessantes que saíram recentemente na Sky and Telescope e Astronomy & Geophysics sobre a decisão e a preparação da proposta para a reunião da IAU. No fundo houve polémica antes e há polémica agora, com muitos astrónomos profissionais a recusarem a utilização da nova definição de planeta. O celeuma principal está no critério da "vizinhança". Como distinguir que um planeta-anão (como Plutão) não limpou a orbita de objectos enquanto um planeta (como a Terra) limpou? Uma primeira tentativa surge num artigo de Soter que sairá publicado em breve no Astronomical Journal: planeta é aquela cuja razão de massa para a massa dos outros objectos na orbita é mais de 100 (e planeta anão será aquele cuja razão é menor que 1). Neste momento serve, mas é previsível que no futuro se encontrem objectos que encham o espaço intermédio. E depois? No fundo, não é fundamental o que se chama aos objectos, claro. O Universo não tem que se sujeitar a definições humanas...

Passamos um bom par de horas com esta conversa. Seguimos depois para a UMa. Tínhamos um objectivo traçado: observar Plutão. Mas não seria nessa noite concerteza, pois com o cobertor de nuvens... que não se dissipou até à dispersão dos quatro. No entanto, estivemos bastante entretidos na sala de mestrados do DME (agora mais usada para sala de aulas de emergência das varias Licenciaturas) com dois computadores (o PC que lá está e mais o portátil que o Elder trouxe) a preparar um plano para observar Plutão: não vai ser fácil, mas não é impossível. Em Maio/Junho será bem mais favorável faze-lo já que Plutão estará mais alto no céu do que nesta altura do ano (alias, à hora em que começamos a preparar as observações Plutão já se tinha posto...). Mas o plano ficou pronto, de qualquer forma. Vamos fazer pelo menos duas exposições em dias diferentes para tentar identificar Plutão a mover-se contra o fundo de estrelas (no fundo foi assim que foi descoberto...).

O que ficou decidido como fundamental, e já como plano observacional preliminar para a próxima Sexta astronómica faça chuva ou faça estrelas (já que Sol não pode fazer) foi perceber a relação entre o pequeníssimo campo da CCD e o do telescópio: encontrar em que parte do mesmo a exposição de facto é feita e a sua relação com a rotação da CCD, etc., em relação ao telescópio.

Pedro Augusto