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Sexta-feira Astronómica - 4
Data: 23-02-2007
Assunto: A Nova Sco 2007 e outras Novas
A quarta Sexta Astronómica decorreu como previsto na noite de 23 de Fevereiro de 2007. Desta vez eramos apenas três (eu, o Élder e o Ilídio – o Noel apareceu mais tarde). O encontro do pessoal ocorreu como de costume por volta das 20h no pátio da UMa junto ao bar dos alunos. O céu estava parcialmente coberto de nuvens. Optamos por jantar na pizzaria que fica qaui perto.
O tema proposto para discussão, inicialmente sugerido pelo Pedro que acabou por não poder estar presente, prendia-se com a recente Nova descoberta na constelação de Escorpião (Nova Sco 2007 ou V1280 Scorpii). Quando esta Nova foi descoberta a 4 de Fevereiro de 2007 tinha magnitude 9. A 16 de Fevereiro a sua magnitude atingiu um pico de 3.8 sendo, portanto, perfeitamente visível a olho nu. De acordo com a revista Sky & Telescope de Fevereiro 2007 uma segunda Nova foi observada a 21 de Fevereiro um pouco abaixo de Nova Sco 2007 o que é notável uma vez que as Novas são fenómenos muito pouco frequentes (estima-se que ocorram entre 20 a 60 Novas por ano na Nossa Galáxia sendo o numero anual de observações muito inferior).
Localização da Nova Sco 2007 na constelação de Escorpião.Fizemos uma rápida revisão acerca do mecanismo que leva à explosão conhecida por Nova. Basicamente as Novas ocorrem em sistemas binários composto por uma Anã Branca e uma companheira, em geral uma estrela gigante ou supergigante, suficientemente próxima para que a estrela anã possa acretar gás (normalmente Hidrogénio e Hélio) das suas camadas mais externas. Esse gás acaba por ser fortemente comprimido sobre a superfície da anã branca. Quando a temperatura do gás for da ordem dos 20 milhões de graus Kelvin ocorre a uma reacção de fusão nuclear que acaba por expelir de forma violenta o gás remanescente para longe dando assim origem aquilo que designamos por Nova.
Se o processo se repetir ao fim de alguns anos dizemos que temos uma Nova Recorrente. Até a data foram observadas apenas algumas Novas Recorrentes cujos intervalos entre explosões são tipicamente da ordem de algumas décadas. Alguns estudos teóricos apontam para que todas as Novas sejam de facto Recorrentes. O que acontece é que muitas vezes os períodos médios entre explosões estimam-se não em décadas mas sim em milhares ou mesmo milhões de anos.
Analisando as datas de algumas novas recorrentes constatamos que aparentemente não é possível, com os dados existentes, estabelecer qualquer periodicidade mesmo para aquelas que se manifestaram mais vezes como é, por exemplo, o caso de RS Oph com explosões em 1898, 1933, 1958, 1967, 1985 e 2006.
Discutimos por alto qual deve ser o procedimento a seguir se quisermos observar uma Nova:
- Apontar para estrelas que já explodiram como Novas e esperar por uma nova explosão.
- Apontar para sistemas binários próximos compostos por uma gigante e uma anã branca.
- Apontar sistematicamente para um determinado campo de estrelas e esperar que algo aconteça.
Em qualquer dos casos é um procedimento que requer muita dedicação e paciência. Como prova disso temos o relato do Even Leslie Peltier, apontado como um dos maiores observadores da AAVSO (American Association of Variable Star Observers) todos os tempos, o qual desde 1920 observou sistematicamente a estrela T CrB (que havia explodido como Nova em 1866), sem que nada tivesse acontecido. Numa noite de 1946, quando a estrela finalmente explodiu (80 anos depois) Peltier tinha adormecido. Acerca deste assunto Peltier escreveu:
From 1920 on I watched it closely at every opportunity. For more than twenty-five years I looked in on it from night to night as it tossed and turned in fitful slumber. Then one night in February 1946 it stirred, slowly opened its eyes, then quickly threw aside the draperies of its couch and rose! Full eighty years had passed since the star had shattered the symmetry of the Northern Crown. And where was I, its self-appointed guardian on that once-in-a-lifetime night when it awoke? I was asleep!"
No entanto no futuro, seria interessante sempre que possível vigiar algumas das estrelas que já explodiram como Novas. Podemos ter sorte ou, pelo menos, poderemos testemunhar o “sono” dessas estrelas.
Vimos também algumas das recomendações da AAVSO a ter antes de anunciar a descoberta de uma Nova. Em geral devemos verificar se não se trata antes de um planeta, de um asteróide ou de uma estrela menos brilhante que simplesmente não figura no catálogo que estamos a usar.
Findo o jantar, cerca das 21h30, verificamos que o céu já estava praticamente limpo. Levamos os telescópios Meade LX200 e Mizar para o terraço da Universidade. Entretanto o Noel apareceu e ajudou a transportar e montar o equipamento. A humidade rondava os 75% e a temperatura os 14ºC. Como não tinhamos o PC portátil com o software para controlar as exposições com a CCD optamos por praticar o alinhamento e focagem dos telescópios.
Para alinhar o LX200 recorremos às estrelas Sírius e Betelgeuse. Para testar o alinhamento apontamos para objectos como a Nebulosa de Orion (M42), Lua e Saturno. Para além deste objectos, ao longo da noite observamos:
- galáxias (M108 e M109 na Ursa Maior )
- enxames abertos (M36, M37 e M38 em Auriga, Pleiades (M45) muito próximas da Lua -- ideal para observar com o Mizar, M41 em Canis Major (pouco nítido devido à muita poluição luminosa).
- enxames fechados (M3 em Canes Vinatici – com o LX200 eram perfeitamente visívieis as estrelas mais exteriores do enxame).
- Alcor e Mizar
Com o passar do tempo tornou-se notória a falta de uma lista previamente elaborada de objectos para observação. Para a próxima Sexta Astronómica devemos preparar antecipadamente essa lista contendo estrelas, enxames abertos, enxames fechados, galáxias, nebulosas, nebulosas planetárias e planetas. Da lista não deverão constar apenas os objectos mais luminosos de cada categoria. Devemos incluir também alguns objectos menos luminosos até para podermos testar as capacidades dos telescópios nomeadamente à medida que formos aprimorando as observasções efectuadas com a CCD.
Laurindo Sobrinho
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